O estudo MuCCUA (“Intervenções materno-infantis contra a desnutrição crónica em Angola: Um estudo comunitário de custo-eficácia randomizado por clusters”) do projecto CRESCER vai finalmente arrancar neste mês de Outubro primeiro na província da Huíla, na comuna da Jamba Sede e de Libongue, depois no mês de Novembro na província do Cunene, na comuna da Mupa e Otchinjau. Esta será a primeira de 10 visitas de estudo que devem realizar-se ao longo de 2 anos e meio.
O objetivo do estudo é avaliar a efectividade de três intervenções (atendimento padrão, transferências monetárias e suplementos nutricionais) na redução da desnutrição crônica em crianças nos seus primeiros 1000 dias de vida (desde a concepção até os dois anos). O estudo também pretende averiguar se estas intervenções têm um impacto na redução da mortalidade infantil, na melhoria da saúde das crianças, nos cuidados pré e pós-natais das mães, e nas atitudes e hábitos alimentares das famílias, entre outros.
No sul de Angola os níveis de subnutrição ainda permanecem elevados nas duas províncias, atingindo a quase 1 de cada 2 crianças nesta região. O seu impacto tem provocado uma redução significativa na qualidade de vida dos indivíduos e das suas famílias, afectando negativamente o desempenho cognitivo e produtividade destas, com aumento significativo de doenças crônicas relacionadas com o tipo de nutrição, e da mortalidade infantil.
Numa primera fase, a equipa de investigação do projecto CRESCER após a assinatura do consentimento informado da pesquisa por parte das lideranças tradicionais, irá procurar identificar um total de 1440 mulheres grávidas nas quatro comunas alvo identificadas previamente; recolher dados sobre as condições de vida, sobre a saúde e a nutrição das participantes e dos seus agregados familiares. As mulheres grávidas incluídas no estudo vão ser acompanhadas desde os seus primeiros meses de gestação, até aos 24 meses de idade do seu filho ou filha que nascer durante a pesquisa.
As actividades do estudo MuCCUA, incluindo primeiro a recolha dos dados, serão realizadas pela equipe do projecto, estudantes de medicina da Universidade Mandume Ya Ndemufayo (UMN) e de enfermagem do Instituto Policténico de Ondjiva (IPO) e Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECOS) que receberam capacitação como inquiridores. Estas equipas irão se deslocar de casa em casa, nos conglomerados ou clusters previamente selecionados nas quatro comunas do estudo para o levantamento de dados de alta qualidade que permitam conhecer o estado nutricional basal destas familias antes de começar as intervenções (linha de base).
Ana Gerardo, decana da faculdade de Medicina da UMN e uma das investigadoras de este estudo: “Este projecto envolve estudantes dos cursos de saúde desde as primerias etapas do mesmo, fazendo assim uma aposta na transferencia do conhecimento e abrindo o caminho para que Angola tenha profissionais que consigam realizar pesquisas futuras, que continuem a contribuir para o conhecimento que transforma a realidade na saúde das comunidades do sul de Angola”.
Os dados recolhidos nesta pesquisa serão partilhados com os parceiros institucionais para a sua monitoria e avaliação. Gerar evidências científicas de máxima qualidade deve servir para avaliar o impacto das estratégias implementadas, e posterior tomada de decisões entre as organizações do sector social e as instituições governamentais envolvidas.
Nas palavras de Elena Trigo, coordenadora geral do Projecto CRESCER em Angola “o Estudo MuCCUA que arrancou hoje no primeiro dos 4 municipios alvo, irá ajudar a responder a pergunta de como prevenir melhor a desnutrição crónica em crianças nos seus primeiros 1000 dias de vida no contexto do sul de Angola; já que esta afecta quase 1 em cada 2 crianças nesta região com grandes implicações na saúde da sua populaçao. O Estudo irá facilitar dados para os parceiros institucionais decidirem como investir recursos da forma mais eficaz neste contexto”.
A pesquisa está ser coordenada pelo instituto espanhol de pesquisa Vall d’Hebron (VHIR), junto dos parceiros locais FAS – Instituto de Desenvolvimento Local, a Universidade Mandume Ya Ndemufayo (UMN), e os parceiros internacionais o Instituto de Saúde Carlos III (ISCIII) e Acção Contra a Fome (ACH) desde Espanha.
O projecto CRESCER é a IV componente do Programa FRESAN – Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola. Inserido na parceria bilateral entre o Governo de Angola e a União Europeia, o FRESAN visa reduzir a fome, a pobreza e a vulnerabilidade das comunidades afectadas pela seca no sul do país, nas províncias do Cunene, da Huíla e do Namibe.