O aleitamento materno é uma das formas mais eficazes de garantir a saúde, a sobrevivência e o pleno desenvolvimento das crianças. No entanto, menos da metade dos bebês no mundo são amamentados nos primeiros seis meses de vida de forma exclusiva. Este número é ainda mais impactante em Angola, onde menos de 40% dos bebés dos zero aos seis meses são amamentados exclusivamente, segundo os dados da UNICEF. Estes dados são muito preocupantes e ameaçam a saúde e o estado nutricional dos nossos bebés, pois constituem uma das principais causas de desnutrição e mortalidade infantil. Além disso, estudos indicam que a mortalidade neonatal aumenta drasticamente em 33% quando o aleitamento é retardado entre 2 a 23 horas após o nascimento e aumenta em 119% quando iniciado além das primeiras 24 horas de vida.
Sabemos que o aleitamento materno é um acção fundamental no combate à desnutrição infantil em todas as suas formas é uma das melhores estratégias para prevenir a mortalidade infantil, principalmente a de recém-nascidos. O leite materno é o alimento ideal para os bebês, pois cobre todas as suas necessidades nutricionais, promove o desenvolvimento sensorial e cognitivo e protege a criança de doenças infecciosas e crônicas. Ao mesmo tempo, o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida reduz a mortalidade infantil por doenças comuns da infância, como diarreia ou pneumonia, e promove uma recuperação mais rápida da doença. Além disso, ajuda as mães a gerar um vínculo saudável e forte com seu bebê, a reduzir os efeitos da depressão pós-parto, protege contra cancro de mama e do ovário, e reduz o risco de mulheres desenvolverem diabetes tipo 2 após a gravidez. Para as famílias, é uma garantia de segurança na alimentação dos bebês, mesmo em tempos de crise, pois é um alimento que está sempre disponível de forma natural, limpa, accessível e sem custos adicionais para alimentar bebês e crianças.
A partir do projecto CRESCER apoiamos e promovemos as indicações da OMS sobre amamentação:
- O aleitamento materno deve ser exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebê. O leite materno fornece toda a energia e os nutrientes necessários para os primeiros meses de vida e cobre muitas das necessidades nutricionais da criança até ao segundo ano de vida. Dar outros alimentos antes dos 6 meses é prejudicial para a saúde do bebé e expõe o bebé a diarreias e infecções precoces. É importante não introduzir outros alimentos, nem mesmo água, sumos, chás ou bebidas doces, com gás nem remédios tradicionais, com excepção dos medicamentos e suplementos de vitaminas e minerais, apenas quando recomendados pelo médico.
- É de extrema importância que o aleitamento materno inicie logo na primeira hora de vida do bebê, pois quando a amamentação é adiada, o bebê pode estar em risco. Pode haver uma crença errada de que no início a mãe não tem leite suficiente para alimentar seu bebê, porém não é naturalmente assim, muito pelo contrário, o primeiro leite do seio da mãe, chamado colostro, é altamente nutritivo e contém tudo o que o recém-nascido precisa.
- Mesmo depois de iniciar outros alimentos, o bebé deve continuar a mamar. O aleitamento materno deve continuar como alimento complementar até pelo menos os dois anos de vida da criança. Este período é particularmente importante para a saúde e o desenvolvimento da criança. É uma janela de oportunidade para reduzir a morbilidade (ficar doente), a mortalidade e o risco de doenças crônicas nas crianças a partir de uma boa nutrição.
- A amamentação deve ser sempre em livre demanda. Isso significa que a mãe deve amamentar o bebê sempre que ele sentir fome, seja de noite ou dia, sem restrições.
Contudo, a amamentação não deve ser apenas uma responsabilidade exclusiva das mamãs. O genitor da criança, a sua família, os serviços de saúde, ADECOS, agentes comunitários de saúde e toda a comunidade em geral devem promover o melhor alimento às crianças nos primeiros meses de vida e facilitar a amamentação materna. Neste sentido, juntamo-nos à Semana Mundial do Aleitamento Materno que é celebrada sempre de 1 a 7 de agosto em todo o mundo e que no corrente ano 2022 trabalha sob o lema “Educar e apoiar”.
De acordo com os resultados do Inquérito dos Indicadores Múltiplos de Saúde (IIMS 2015-2016), em Angola mais de 2.1 milhões (38%) de crianças menores de cinco anos apresentam desnutrição crônica, sendo esses valores ligeiramente superiores nas províncias de Huíla e de Cunene (44% e 39%, respetivamente). Estes dados indicam que cerca de uma em cada duas crianças nestas províncias sofre de desnutrição crónica e pode ter o seu desenvolvimento cognitivo comprometido, afectando as suas capacidades na fase adulta.
Como forma de combater a desnutrição crônica, o Projeto CRESCER promove o aleitamento e incentiva as mulheres a continuarem a amamentação até os dois anos de idade da criança como alimentação complementar. Estamos convencidos de que o leite materno é o melhor alimento para nossos bebês em Angola e é por isso que os ADECOS treinados no projecto CRESCER aprendem sobre ferramentas de promoção de saúde nas comunidades para fortalecer esta prática junto das mães e pais para promover melhor saúde.
Toda sociedade deve estar comprometida em criar um ambiente em que cada vez mais mulheres se sintam encorajadas, apoiadas e protegidas a amamentar.
Juntos, juntas, somos mais fortes!